10 de nov. de 2007

A caminho do livro digital...

O texto / reflexão de josé Afonso Furtado, com o título "O Píxel e o Papel", que se encontra disponível em http://www.ciberscopio.net/artigos/tema3/cdif_05_1.htm , deu origem a uma reflexão da minha parte sobre toda esta temática do livro digital.
Algures no seu texto o autor refere que os "e-books serão melhor compreendidos se forem vistos como uma evolução e não como uma revolução". Não sei!! Por muito que queiramos ver os e-books como uma necessária e inevitável evolução, soa-me realmente a uma revolução que arrasa e certamente modifica o conceito de livro, de autor e de leitor. Nomeadamente a escrita em hipertexto permite ao leitor tomar o seu próprio caminho na leitura de um texto abandonando decididamente a leitura sequencial e linear que caracteriza uma obra tradicional.
"... a possibilidade de os media digitais integrarem conteúdos multimedia e de os organizar de modo hipertextual e interactivo leva inevitavelmente à elaboração de “objectos informacionais” muito afastados do modelo fechado, linear e baseado primariamente na textualidade escrita própria do livro impresso."
Parece-me que se põe agora na escrita o problema que se pôs nas artes plásticas em meados do século XX com o aparecimento da arte conceptual. Nessa altura foi posto em causa o objecto artístico e o papel passivo do fruidor. A arte conceptual consegue de forma sublime libertar o público da intenção do autor podendo cada um seguir uma linha de pensamento bem distinta a propósito do mesmo objecto. Aliás estas permissas foram lançadas no ínicio do século XX com a primeira aguarela abstrata de Kandisky. Este artísta introduz pela primeira vez um tipo de línguagem que permite uma interpretação não linear e bastante própria de cada observador. Assim é o fruidor, leitor que faz a obra de arte e não o artísta. Ganha-se uma nova dimensão no conceito de arte, dimensão essa levada ao extremo na arte conceptual. Da mesma forma caminhamos para o livro digital e para a escrita em hipertexto. É o leitor que traça o seu próprio caminho e não o escritor. A "história" ganha assim uma dimensão pessoal de acordo com cada leitor. Não será isso uma grande revolução na escrita assim como foi o abstrato para a arte?
O autor do texto de referência ainda acrecenta: "Os livros e a leitura encontram-se inextricavelmente ligados à cultura e a sociedade, e por isso os costumes, necessidades e objectivos sociais e culturais não podem ser ignorados. E a finalidade do desenvolvimento dos e-books não é a de substituir os livros impressos mas explorar e compreender o que podem oferecer estas novas tecnologias de informação e comunicação no apoio à interacção entre as pessoas o conhecimento registado..."
Da mesma forma que uma linguagem figurativa, realista ou naturalista e passiva continua a existir nos nossos dias a par de uma linguagem abstrata, dinâmica e interactiva, assim me parece que coesistarão os e-books e os livros tradicionais tal como os conhecemos nas nossas bibliotecas e estantes.

Ou será a minha dificuldade em aceitar o desaparecimento do objecto livro com certo??

CR

Um comentário:

Booktailors - Consultores Editoriais disse...

Informo que o artigo deu origem a um livro, bem mais desenvolvido e que já pouco tem a ver com esse artigo da Ciberescópio, que irá ser lançado no dia 27, na Casa Fernando Pessoa (apesar do livro já ter sido publicado noutro países entretanto, nomeadamente Espanha e Brasil).

Para mais informações, vamos estar a falar sobre o livro e o autor (temos uma entrevista com ele amanhã) no Blogtailors (http://www.blogtailors.blogspot.com/)

Cumprimentos,
NSL